Tag Archives: Europa

Euro valorizou-se 50 por cento em relação ao dólar em 10 anos

A cotação da moeda única europeia subiu 50 por cento face ao dólar na última década, período durante o qual o valor do euro foi quase sempre superior ao da divisa norte-americana. A 2 de janeiro de 2002 um euro valia 1,1 dólares; no ínicio deste mês um euro valia 1,35 dólares.

Por Pedro Pina

A 2 de janeiro de 2002, quando as notas e moedas do euro entraram em circulação, um euro valia 1,1 dólares, segundo o Banco Central Europeu. Desde 15 de julho de 2002 que o euro começou a valer mais que o dólar e, a 15 de julho de 2008 chegou a valer 1,59 dólares, o máximo que alguma vez atingiu em relação à moeda norte-americana, numa altura em que a crise do “subprime” se tornava mais evidente nos Estados Unidos da América (EUA).

No início deste mês, um euro valia 1,35 dólares – o equivalente a uma subida de 50 por cento. Hoje, vale 1,3 dólares. A 26 de outubro de 2000, o euro atingiu o seu mínimo histórico face à divisa dos EUA: 82 cêntimos. Durante o resto da década, a cotação da moeda única europeia foi ganhando terreno face ao dólar.

Por RTP

A meio da primeira década do século XXI, chegou a haver preocupações entre os governantes europeus quanto aos malefícios de um euro forte. Com o dólar em queda face ao euro, as importações denominadas em dólares, das quais faz parte, por exemplo, o petróleo, tornavam-se mais baratas para a União Europeia, mas as exportações da zona euro para o resto do mundo tornavam-se mais caras.

“Nós não somos a Grécia. Não somos Portugal.”

Nos últimos dois anos, contudo, o euro voltou a descer. Em meados de 2010, a cotação estava nos 1,19 dólares, o valor mínimo desde 2006, perante receios quanto à situação financeira da Grécia, de Portugal, da Itália e de outros países do euro.

Com os EUA a enfrentarem os seus próprios problemas económicos, o euro voltou a subir no dia em que Portugal formalizou o seu pedido de ajuda à ‘troika’, a 16 de maio deste ano. O euro valia 1,41 dólares.

Ainda assim, a 15 de julho, num discurso sobre a crise económica internacional, o Presidente Barack Obama disse que seriam necessários apenas “pequenos ajustes” nos EUA para reformular a sua economia endividada, insistindo que o país não estava no mesmo estado que “a Grécia ou Portugal”.

A moeda única europeia representava, no final do ano passado, 26 por cento das reservas conhecidas dos bancos centrais globais, sete pontos percentuais acima do peso que tinha quando entraram em circulação as notas e moedas do euro. No entanto, o euro continua longe do dólar, que representa 61,8 por cento das reservas conhecidas.

Medir ao certo qual é o peso do euro enquanto moeda de reserva é difícil, porque a composição de quase metade das reservas mundiais não é conhecida. É preciso ainda considerar as reservas de composição desconhecida têm vindo a crescer a um ritmo muito mais forte que as conhecidas. Em 2001, as reservas desconhecidas representavam menos de 23,5 por cento do total; em 2010, já eram quase 45 por cento, segundo os dados da COFER citados pela Lusa. As reservas cuja composição não é divulgada pertencem sobretudo a países do Médio Oriente (particularmente os exportadores de petróleo) e da Ásia (sobretudo a China).

“O euro é um ativo de reserva importante, o segundo mais importante a seguir ao dólar. Esse papel não deverá alterar-se nos próximos anos a menos que a zona euro se desmembre”, disse à agência Lusa Marc Chandler, chefe de estratégia cambial do banco de investimentos nova-iorquino Brown Brothers Harriman.

Marc Chandler acrescenta contudo que o peso do euro corresponde “basicamente à soma das suas partes”, nomeadamente o marco alemão e o franco francês.

Euro faz 10 anos no Ano Novo

É utilizado por 332 milhões de pessoas de 17 países (Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, França, Eslovénia, Eslováquia, Espanha, Estónia Finlândia, Grécia, Holanda, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Malta e Portugal) e entrou em circulação há 10 anos, a 1 de janeiro de 2002, sendo considerada a segunda moeda mais importante no mundo, depois do dólar.

“Há dez anos, no dia 1 de janeiro de 2002, as notas e moedas de euro foram introduzidas em 12 Estados-membros da União Europeia”, lembra o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mário Draghi no site da instituição. “A introdução do novo numerário constituiu um desafio sem precedentes, mas decorreu com êxito. Em poucos dias, encontravam-se em circulação milhares de milhões de notas e moedas de euro”, considerou, acrescentando que “o euro tornou-se um símbolo da Europa e as notas e moedas de euro passaram a fazer parte do nosso quotidiano”.

Para assinalar o décimo aniversário da moeda única, o BCE vai lançar um concurso chamado ‘Eurocorrida’, dedicado às crianças da “geração euro”, ou seja, com idade entre os 9 e os 12 anos e residentes na União Europeia. Além disso, o BCE pretende abrir portas ao público a 29 de abril do próximo ano, para apresentar a história da moeda única europeia e a sua produção.

Mais sobre o Euro

As notas de euro foram desenhadas pelo designer austríaco Robert Kalina, vencedor do concurso lançado pelo Instituto Monetário Europeu em fevereiro de 1996. A decisão foi tomada por um júri de especialistas em marketing, design, e história da arte e contou ainda com os resultados de uma sondagem de opinião ao público europeu.

Verifique o número de série da nota; a letra antes do número identifica o país onde ela foi produzida. Se a letra for “M”, a nota foi fabricada em Portugal.

A 1 de janeiro de 2002, estavam impressas 14,9 mil milhões de notas, o suficiente para cobrir uma área equivalente a 15 mil campos de futebol.

Na mesma altura foram cunhadas cerca de 52 mil milhões de moedas, para o que foi preciso utilizar 250 mil toneladas de metal.

Segundo o BCE, no final de novembro de 2011 havia 868 mil milhões de euros em notas de euro em circulação. A nota mais numerosa é a de 50 euros.

in RTP

SABERES

Governar na Europa é como regatear na Feira do Relógio

É a sensação que me dá. Tenho lido as notícias sobre a “crise” política e económica (como toda a gente) e a única conclusão que me autorizo a tirar é que governar na Europa é como regatear na Feira do Relógio. Está bem que não é nenhuma novidade que a política assente no neocapitalismo liberal se sustenta em duas máximas principais: negociar com quem tem dinheiro e calar quem tem ideias. Estou conformada com isso e contorno a coisa como posso.

Mas ultimamente parece que entrámos num estado litúrgico, que sobrevive num qualquer limbo teórico que não reconheço nas sebentas da teoria política, em que as regras básicas e fáceis a que nos habituámos não se aplicam. É que, graças à “crise”, que desta vez é a sério e andamos todos a senti-la na pele em vez de só falarmos sobre isso, quem tem ideias não se cala. Ainda bem. Estão a acontecer coisas. Coisas a sério. Greves, manifestações, marchas, ocupações, ameaças de revoluções e outras confusões. Gosto.

Mas também graças à “crise” quem tem dinheiro está mais forreta, mais sovina, mais avarento, mais somítico. E quem não tem está mais sedento, mais ávido, mais sôfrego, mais desesperado. E, talvez por isso, quando leio os títulos dos jornais, lembro-me sempre da minha Avó na Feira do Relógio.

“ Três camisas 20 euros! 20 euros!”, grita uma mulher com voz de homem grande. “Dez e vai com sorte”, responde a minha Avó de 40 quilos com um ar desinteressado, de quem só ali está porque não tem nada melhor para fazer. “Não pode ser minha senhora, tenho que ter dinheiro p’ra dar de comer aos meus filhos”, responde a mulher vestida de preto e de carrapito no alto da cabeça. “Dez ou nada feito”, responde a minha Avó. A coisa dura uns dez minutos e as três camisas vão para casa por 15 euros no máximo. Agora comparem com o que se passou na Grécia a semana passada e com o que se está a passar hoje na Itália.

Espécie em vias de extinção

O primeiro-minsitro grego, Georges Papandreou, não estava para vender o país à Troika e põe um referendo em cima da mesa para negociar com o povo e com quem manda na Europa. Dois coelhos de uma cajadada só. Aquilo assusta a Merkel e o Sarkozy que respondem com ameaças sobre a saída do país da Zona Euro. Papandreou desiste do referendo e, para não deixar mal o povo, apresenta demissão. O processo não leva dez minutos, mas resolve-se em dois dias.

O povo italiano quer pôr o primeiro-minsitro, Silvio Berlusconi, na rua. A oposição também, mas o homem está decidido a ficar. Votam-se as contas do Estado na Câmara dos Deputados e Berlusconi consegue a aprovação mas perde a maioria absoluta porque a oposição esteve presente mas não votou. Após a votação, Berlusconi diz ao Presidente Giorgio Napolitano que se demitirá quando forem aprovadas as medidas de austeridade propostas pela UE. É como quem diz: “Querem-me na rua? Votem a favor.”

Não me digam que isto não é, tal e qual, como regatear camisas na Feira do Relógio. Como disse numa qualquer entrevista o realizador Woody Allen, “eu acredito que há qualquer coisa a olhar por nós. Infelizmente, é o governo.” E parece que o nosso não tem jeito para o negócio.

in Standard’s & People, Pá!, 08/11/11

OPINIÃO