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Internet é nova frente de batalha na guerra dos EUA ao terrorismo

Depois de aparecer propaganda com o propósito de recrutar apoiantes para a Al Qaeda em vários websites “tribais” iemenitas, “em 48 horas a nossa equipa estampou nos mesmos locais versões alteradas da informação, que mostram o número de ataques que a Al Qaeda assumiu contra o povo do Iémen”, explicou Hillary Clinton num discurso para o Comando de Operações Especiais, em Tampa, nos Estados Unidos da América (EUA).

Esta revelação deixa conhecer parte das atividades da guerra cibernética contra o terrorismo que os EUA têm levado a cabo, mas que a Administração raramente comenta ou discute.

A operação de pirataria foi levada a cabo pelo Centro de Comunicações Contraterroristas Estratégicas, com sede no Departamento de Estado. Constituído por um grupo de diplomatas, operadores militares especiais e analistas dos serviços secretos, este Centro patrulha a Internet e tenta “combater a propagação da ideologia islâmica radical monitorizando blogues e fóruns”, segundo informou o ex-chefe da equipa, Major David Nevers, ao Washington Post.

Segundo o oficial, a equipa concentra os esforços “naqueles que ainda não foram radicalizados”, utilizando os mesmos mecanismos de comunicação que os extremistas islâmicos. “A ideia é ir onde a conversa acontece usando os comentários e a propaganda extremista como um ponto de partida para chegar às pessoas que os estão a ouvir”.

“Podemos comprovar que os nossos esforços estão a ter impacto [no Iémen], onde, segundo o Governo norte-americano, a célula da Al Qaeda da Península Arábica (AQAP) se baseia, “porque os extremistas extravasam a sua frustração publicamente e pedem aos seus apoiantes para não acreditarem em tudo o que lêem na Internet”, disse a responsável pelas relações externas dos EUA.

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Operação inútil?

“O facto é que a Al Qaeda utiliza táticas e ideologias que são, por
natureza, excecionalmente divisionistas e controversas. Destacar isso
causa uma enorme quantidade de danos à imagem da Al Qaeda, às suas
campanhas de recrutamento e aos seus esforços para iniciar novos
ataques. No entanto, será que a divulgação desta informação em blogues e
fóruns tribais atingirá um público amplo o suficiente para fazer a
diferença? Se viver no Iémen e numa área tribal, provavelmente não
precisa de ir a um website para se juntar à Al Qaeda”.

(Evan Kohlmann, consultor em terrorismo internacional que monitoriza sites jihadistas, ao Washington Post.)

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A secretária de Estado usou esta operação de pirataria como exemplo da crescente cooperação nas missões de contraterrorismo entre o Departamento de Estado, os serviços secretos e os militares, num discurso em que defendeu a expansão da ação do exército norte-americano a áreas que costumavam ser da exclusiva responsabilidade dos diplomatas. “Juntos, eles vão trabalhar para antecipar, desacreditar e ultrapassar estrategicamente a propaganda extremista”, disse Hillary Clinton.

Garante que levar a cabo operações antiterroristas com civis e militares e expandir o alcance do seu Departamento, é utilizar “poder inteligente”, acrescentando que o país precisa de “forças de operações especiais que estejam tão confortáveis a beber chá com líderes tribais, como a invadir instalações terroristas” e de “diplomatas e especialistas em desenvolvimento que estão à altura da tarefa de serem parceiros [do Comando de Operações Especiais]”.

“Jogo de gato e rato”

O que o Departamento de Estado norte-americano está a fazer não se limita à invasão e vigia de websites suspeitos de terem ligações a movimentos terroristas. Os especialistas responsáveis por estas operações desafiam os extremistas em fóruns abertos.

“Parodiamos, criticamos e apontamos as fraquezas ao que eles fazem”, disse ao Washignton Post, sob condição de anonimato, um funcionário do grupo de trabalho do novo Centro de Comunicações Contraterroristas Estratégicas, que não estava autorizado a descrever o processo publicamente. “É um jogo de gato e rato”, acrescentou.

De acordo com o que publica o jornal, na semana passada a AQAP lançou uma série de mensagens em forma de banners e pop-ups que incidiam sobre a urgência em combater os americanos, ilustradas com caixões cobertos pela bandeira dos EUA, como se faz, tradicionalmente, quando morre um membro das tropas norte-americanas.

A equipa do Departamento de Estado respondeu ao ataque através da compra de espaço no mesmo website, colocando novas mensagens, iguais, mas com caixões de civis iemenitas.

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Relações diplomáticas entre o Iémen e os EUA

O Iémen é considerado um estudo de caso pelo Departamento de Estado dos EUA. Diplomatas norte-americanos têm trabalhado no sentido de estabilizar politicamente o novo Governo do Presidente Abed Rabbo Mansour Hadi, que substituiu o ditador iemenita deposto, Ali Abdullah Saleh.

Saleh deixou o cargo em fevereiro, como parte de um acordo mediado pelos países árabes do Golfo e apoiado pelos EUA, que visava acabar com a agitação política no país após uma revolta popular que durava há um ano. Hadi tem enfrentado grupos leais a Saleh que, inclusivamente, se recusam a abandonar o Governo e os postos militares.

A Casa Branca respondeu na semana passada emitindo uma ordem executiva em que ameaça aplicar sanções contra os indivíduos que desafiem o Governo de Hadi. Enviou também um lote de forças de operações especiais para treinar o exército do Iémen e “ajudar a suportar os ataques da Al Qaeda”.

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Al Qaeda controla parte do território do Iémen

Confrontos entre as tropas do governo iemenita e combatentes da Al Qaeda mataram na quarta-feira 33 militantes do grupo terrorista e nove soldados no sul do país, área territorial controlada pelo grupo extremista islâmico, segundo informações da agência Reuters. O combate ocorreu durante a madrugada nos arredores da cidade de Bajidar, na província de Abyan.

Segundo informa o Governo do Iémen, esta povoação foi ocupada há mais de um ano por militantes da Al Qaeda que exploravam a turbulência política durante a revolta do povo iemenita. As autoridades dizem que Zinjibar e Jaar também estão sob controlo da Al Qaeda, pelo que, segundo informaram oficiais do exército às agências noticiosas, sob anonimato, as forças militares as bombardearam esta semana.

Este conflito ocorreu poucos dias após a Al Qaeda reivindicar em comunicado o atentado da passada segunda-feira, em Sanaa, capital do Iémen, que vitimou 96 soldados e feriu outros 300. Segundo a mensagem da rede extremista, o ataque visava Mohamed Nasser Ahmed, o ministro iemenita da Defesa, e era uma resposta à ofensiva do exército contra a rede presente no sul do país.

Analistas políticos citados pelas agências noticiosas internacionais apontam este atentado como prova de que a Al Qaeda expandiu o seu raio de ação, ultrapassando a sua esfera de influências no sul do Iémen.

Até agora, de acordo com a agência France Press, morreram pelo menos 213 pessoas, incluindo 147 militantes da Al Qaeda, desde o início dos conflitos que se desencadearam no início do mês.

Amigos do Iémen doam 4 mil milhões de dólares

Ao mesmo tempo que ocorria o combate no sul do território, o grupo internacional de Amigos do Iémen reunia na Arábia Saudita, onde prometeram uma doação de 4 mil milhões de dólares (pouco mais de 3 mil milhões de euros) para ajudar na estabilização política e na recuperação da economia do país.

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Arábia Saudita doa 3,25 mil milhões de dólares

A Arábia Saudita decidiu doar 3,25 mil milhões de dólares (2,6 milhões de euros) dos 4 mil milhões prometidos.

“Asseguro, mais uma vez, o nosso apoio ao Iémen para que ultrapasse todas as fases desta iniciativa política e para ajudar a alcançar a segurança, estabilidade e prosperidade necessárias para enfrentar as ameaças de extremismo e de terrorismo”, disse, na conferência de Riade, o chanceler saudita, príncipe Saud al-Faisal.

O ministro britânico dos Negócios Estrangeiros prometeu que o Reino Unido vai entregar mais 44 milhões de dólares (35 milhões de euros) de ajuda externa ao Iémen, para além do que ficou acordado pelo grupo dos Amigos do Iémen.

Em Abril, o FMI emprestou 93,7 milhões de dólares (74,6 milhões de euros) ao Iémen.

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Representantes de várias organizações internacionais, incluindo o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, e de 27 países, entre os quais os membros do Conselho de Cooperação dos Estados Árabes do Golfo, os EUA, a UE, o Reino Unido, a Rússia e o Egito, reuniram-se em Riade, onde partilharam a preocupação com a possibilidade de o Estado do Iémen se estar a transformar numa base de trabalho para a Al Qaeda.

Segundo o último relatório do Population Reference Bureau, 47 por cento da população do Iémen vive com menos de dois dólares por dia, abaixo do limiar da pobreza, o que, segundo declarou à Reuters um grupo de sete agências de ajuda humanitária presentes na reunião na Arábia Saudita, “significa que metade da população não tem recursos suficientes para comer, sendo urgente ajudar o país para evitar uma catástrofe”.

Ao mesmo tempo, o ministro iemenita para o Planeamento e a Cooperação Internacional, Mohammed Saeed al-Saidi, explicou na conferência que o seu país precisa de um investimento inicial de 2,17 mil milhões de dólares (1,7 mil milhões de euros) para estabilizar o Governo, lutar contra ataques dos militantes extremistas e diminuir a crise humanitária em que o país se encontra.

O Iémen precisa ainda de mais 5,8 mil milhões de dólares (4,6 mil milhões de euros) para injetar na economia e investir em infraestruturas e, segundo o plano do ministro, de mais 3,7 mil milhões de dólares (2,9 mil milhões de euros) em 2014. O ministro iemenita das Finanças, Sakhr al-Wajih, prevê que o país terminará o ano com um défice de 2,5 mil milhões de dólares (2 mil milhões de euros).

in RTP

É absolutamente necessário aumentar o salário mínimo

Nós, felizes privilegiados, que achamos que até temos sorte por termos um contrato de 3 meses aos 20 e poucos anos, que ganhar o ordenado mínimo a viver em casa dos pais é um luxo, mas que isto das medidas de austeridade é uma chatice e que o Governo está a prejudicar a nossa amaldiçoada “geração à rasca”, fazemos duas coisas com demasiada facilidade.

Metade de nós tem a triste mania de ter pena dos “pobres coitados” que estão desempregados, que perderam dois ordenados, que com o ordenado mínimo sustentam uma família inteira, que têm duas licenciaturas e trabalham no McDonald’s. Falamos nisto todos os dias, gritamos palavras de ordem sentados no café e escrevemos em blogues que quase ninguém lê.

E a outra metade compra assiduamente o Expresso, lê as notícias do Económico, às 20h00 vê o Telejornal em vez de mudar para a Fox, assiste aos espectáculos transmitidos no canal da Assembleia da República e, em vez de gritar palavras de ordem no café, grita com os que o fazem, garantindo, por A+B, que para todos os efeitos, e segundo não sei quantos relatórios de não sei quantas organizações, “o Governo até tem razão”.

Eu, pessoalmente, identifico-me mais com a classe pseudo-activa e condescendente, mas tenho um amigo (a quem admiro a inteligência) que se enquadra mais no grupo que “vá, não está contra as medidas de austeridade porque tem mesmo que ser”. Mas como tenho a mania que sou democrática (se bem que já nem saiba o que isso quer dizer) decidi fazer um exercício de abstracção, depois de ouvir, por duas bocas diferentes – uma delas a do Secretário de Estado do Emprego, Pedro Martins – que “o ordenado mínimo em Portugal não é realmente baixo”.

Esta declaração deixa-me em polvorosa. Obviamente. Tendo em conta que faço parte do grupo que só encontra erros no ditado do Governo… Mas, sabia que o meu amigo iria sentir uma necessidade incontrolável de justificar a afirmação do Doutor Pedro Martins com gráficos e números. Pedi-lhe esse favor e percebi perfeitamente a lição.

O Secretário de Estado do Emprego explicou que “o salário mínimo em si pode não ser elevado – e com certeza não é elevado”. O homem é esperto. O doutoramento em economia afinal também lhe deu habilidades de retórica. Continua: “Mas, em termos proporcionais, em termos daquilo que se encontra na realidade portuguesa – realidade essa que temos que enfrentar com objectividade para conseguir ultrapassar as limitações que agora nos colocam vários obstáculos -, o salário mínimo, em termos relativos, não é baixo em Portugal.”

Achei logo que isto era aldrabice. Pedi ao meu amigo economista, que se interessa por estes tecnicismos, que me esmiuçasse a questão. Trocou-me a expressão “relativos” por miúdos e disse-me que, por exemplo, o salário mínimo no Luxemburgo pode parecer um absurdo porque é elevadíssimo, no entanto estaríamos a pensar de acordo com o nosso poder de compra em Portugal, logo, se tivermos em conta o custo de vida lá, o ordenado mínimo deixa de ser “absurdo”, para ser “adequado”. E então? Um tipo normal no Luxemburgo, com o ordenado mínimo, vive melhor que um tipo normal a ganhar o ordenado mínimo em Portugal, certo?

“Certo”, diz-me o meu amigo economista. “Mas o que o Secretário de Estado defende é que, comparando com valores internacionais, tendo em conta os salários médios e os níveis de produtividade em Portugal, ou seja, o que representa a nossa competitividade (quanto conseguimos produzir por custo médio de hora de trabalho), o salário mínimo praticado em Portugal é, estatisticamente, superior aos praticados no resto do mundo.” E até me arranjou um gráfico para eu ver como ele tinha razão.

Dados da OCDE relacionam a proporção a que aumentou o custo da mão-de-obra (produtividade) com a proporção a que aumentaram os salários médios para o período de 2000 a 2010.

Depois ainda me explicou o drama do Secretário de Estado: “É que o salário mínimo deve ser subido gradualmente, acompanhando o crescimento económico de um país e o aumento da sua capacidade de produção, coisa que actualmente não está, claramente, a acontecer. E se aumentares o salário mínimo, aumentas o custo de produção porque és obrigado a pagar mais aos trabalhadores, logo, nesta conjuntura, pode sair o tiro pela culatra. Aumentar o salário mínimo faria aumentar o desemprego porque, para pagar mais a uns, os patrões teriam que despedir outros.”

Faz tudo sentido, do ponto de vista estatístico, matemático e da eficiência económica. Mas eu aprendi no livros que a economia tem um lado mais bonito, o da solidariedade. E até o meu amigo economista concorda que “o salário mínimo tem que existir para proporcionar níveis de vida com dignidade às muitas pessoas que se encontram na base da pirâmide social e para proteger os trabalhadores de patrões abusadores.”

A meu ver, os 485 euros já não estão a cumprir esta função.  É que os preços e os impostos têm subido muito mais depressa em Portugal que, por exemplo, na Alemanha, por isso, o poder de compra do português tem diminuído. Muito. E a isto acrescentam-se as “tão necessárias” medidas de austeridade (e olhem que isto também são números e dados estatísticos e essas coisas que os Secretários de Estado gostam).

"Os pobres que paguem a crise", por lutecartunista.com.br

Claro que é muito fácil para mim – que ganho o ordenado mínimo – criticar o que o Doutor Pedro Martins e o meu amigo economista dizem. Pelo menos agora faço-o percebendo os números. Consigo fazer as contas às consequências do que pede a esquerda ao Parlamento. A meu ver, se também é da responsabilidade do Estado assegurar que a dignidade dos cidadãos é mantida, faz tanto sentido potenciar a eficiência quanto faz potenciar a solidariedade, as duas a cargo da economia.

Também é muito fácil, para o Doutor Pedro Martins, falar das estatísticas e debitar dados do alto de um ordenado “mínimo” superior a 5 mil euros. Contudo, efectivamente, com o salário mínimo, em Portugal, não se vive, sobrevive-se. E isto é um facto absoluto. Não é relativo.

in Standard’s & People, Pá!, 15/11/2011

OPINIÃO