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EUA castigam Paquistão por condenar alegado informador da CIA

A emenda, proposta pelo senador republicano Lindsey Graham, foi aprovada por unanimidade e reduz, em 33 milhões de dólares (26 milhões de euros), o apoio a Islamabad. A agência France Press informa que o valor escolhido pelo Senado norte-americano simboliza o número de anos de prisão a que foi condenado o médico paquistanês.

“Precisamos do Paquistão, o Paquistão precisa de nós, mas nós não precisamos do Paquistão a jogar jogo duplo e sem ver justiça no fim de Osama bin Laden”, disse o senador republicano Lindsey Graham.

Shakil Afridi, de 50 anos, foi condenado a 30 anos de prisão pelo sistema de justiça tribal do distrito paquistanês de Khyber, em primeira instância. Além da pena de prisão, o médico ficou obrigado ao pagamento de uma multa no valor de 3500 dólares (2783 euros) que, se não pagar, lhe aumenta a pena de prisão em mais três anos.

Foi acusado de traição por alegadamente ter fingido a realização de um programa de vacinação contra a Hepatite B junto dos filhos de Osama bin Laden, ex-líder da Al Qaeda, no complexo onde todos moravam em Abbottabad, a fim de recolher amostras de ADN para entregar à CIA. É considerado, pelo tribunal tribal, um espião, ainda que não esteja claro se o médico sabia que estava encarregue de uma missão para a CIA na altura dos acontecimentos.

“Shakil não sabia realmente que estava à procura de Bin Laden”, disse Shaukat Qadir, um ex-militar paquistanês que investigou o ataque a Abbottabad e tem estado a par dos detalhes do interrogatório a Afridi, segundo noticia a BBC. “Mas ele deveria ter notificado as autoridades paquistanesas das suas atividades”, acrescenta.

“No caso do Dr. Afridi o que está em causa é se agiu em conformidade com as leis paquistanesas e pelo que é decidido pelos tribunais paquistaneses, e os países precisam de respeitar os processos legais uns dos outros”, disse aos jornalistas Moazzam Khan, a porta-voz do ministério paquistanês das Relações Exteriores.

O Paquistão insistiu, em comunicado às agências, que qualquer outro país teria feito o mesmo se descobrisse que um seu cidadão estava a trabalhar como espião para uma nação estrangeira. Afridi não esteve presente no seu próprio julgamento e não pôde, por isso, dar a sua versão dos acontecimentos. Está confinado a uma cela na prisão de Peshawar.

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A captura do líder da Al Qaeda

Bin Laden foi morto por uma unidade de elite das Forças Armadas norte-americanas a 1 de maio de 2011, no complexo em que vivia em Abbottabad, no Paquistão. O acontecimento abriu uma frente de conflito entre os EUA e o Paquistão, que viu esta ação como uma violação da sua soberania, fragilizando a relação entre Washington e Islamabad. Pouco depois do ataque unilateral dos EUA à casa de Bin Laden, Afridi foi preso por conspirar contra o Estado do Paquistão.

Nos EUA e noutras nações ocidentais, Afridi é visto como um herói que ajudou a eliminar o homem mais procurado do mundo, mas o exército e chefes de espionagem paquistaneses mostraram-se indignados com o ataque, o que levantou a suspeita internacional de que o Paquistão estava a abrigar o então líder da Al Qaeda.

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A medida punitiva foi acrescentada às profundas reduções que o Comité das Dotações já tinha programado para o orçamento que o Presidente Barack Obama fez para o Paquistão no sentido de compensar a cooperação do executivo paquistanês no combate ao terrorismo. O pedido de Obama foi reduzido em 58 por cento.

A mesma comissão aprovou ainda a redução já prevista de apoios ao Afeganistão e ao Iraque. O orçamento global para a ajuda externa para o próximo ano foi cortado em mais de metade e podem surgir novas reduções para o Paquistão se Islamabad não abrir rotas de transporte terrestre para a entrada das forças da NATO (lideradas pelos EUA) no Afeganistão.

Estas rotas foram encerradas depois de, durante um ataque ao Afeganistão em novembro de 2011, coordenado pelo exército norte-americano, do lado da fronteira com o Paquistão, terem morrido 24 soldados paquistaneses.

“O tribunal vê a Al Qaeda como Paquistão”

A senadora democrata Dianne Feinstein, presidente do Comité de Inteligência do Senado, negou que Afridi fosse um espião ao serviço dos EUA e referiu que o Paquistão tem sofrido nas mãos dos terroristas e que, por isso, o Executivo tem dificuldades em compreender por que é que a condenação Afridi é uma traição das relações diplomáticas com os EUA.

“Esta condenação diz-me que a Al Qaeda é vista pelo tribunal como sendo Paquistão”, declarou Feinstein, justificando o porquê de repensar a assistência dos EUA àquele país.

Não foi iniciado qualquer processo diplomático, com republicanos e democratas a posicionarem-se na mesma perspectiva. Shakil Afridi foi preso ontem e as medidas de punição do país foram tomadas hoje.

“É arbitrário, mas a esperança é que o Paquistão perceba que estamos a falar a sério”, disse o número dois do Senado, o democrata Richard Durbin. “É ultrajante que [os paquistaneses] digam que um homem que nos ajudou a encontrar Osama bin Laden é um traidor”, acrescentou.

Lindsey Graham acusou o Paquistão de ser um “aliado esquizofrénico”, por ajudar os Estados Unidos da América ao mesmo tempo que ajuda a rede terrorista Haqqani, um grupo com estreita relação à Al Qaeda e aos talibãs, e que reivindicou autoria de vários ataques contra americanos.

O democrata Patrick Leahy afirmou que a relação diplomática entre os dois países era como “Alice no País das Maravilhas, na melhor das hipóteses. Se isto é cooperação, odiaria ver como seria a oposição.”

Condenação foi “injusta e infundada”

A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, já tinha pedido a libertação do médico paquistanês esta quinta-feira, alegando que Shakil Afridi serviu tanto os interesses norte-americanos como os paquistaneses, considerando a condenação “injusta e infundada”.

“A sua ajuda foi fundamental para derrubar um dos mais conhecidos assassinos do mundo, o que era, claramente, do interesse do Paquistão, assim como nosso e do resto do mundo”, disse Clinton aos jornalistas, acrescentando que os EUA vão continuar a pressionar Islamabad no sentido de retirar a acusação de traição.

O senador John McCain, representante republicano no comité das Forças Armadas, informou que os legisladores concordaram em reter alguma da ajuda militar para o Paquistão até que o secretário paquistanês da Defesa certifique que o país vai deixar de condenar pessoas como Afridi.

“Todos estamos indignados com a acusação e a condenação a 33 anos de prisão – praticamente uma sentença de morte – para o médico paquistanês que foi fundamental na remoção de Osama bin Laden”, disse McCain, acrescentando que Afridi era inocente de qualquer delito.

O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Leon Panetta garantiu, em tom de ameaça política, que este tipo de ação contra alguém que ajudou na guerra contra o terrorismo era “um erro”.

in RTP

Primeiro foguetão privado chega ao espaço

Três dias após o lançamento falhado, a plataforma da Flórida, nos Estados Unidos, lançou o foguetão privado após a contagem decrescente, sem problemas. Dez minutos depois, a cápsula Dragon separou-se do resto do foguetão e atingiu a órbita da Terra, devendo chegar à Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em Inglês) na próxima sexta-feira. A ancoragem será feita com o braço robótico da ISS, controlado por dois dos seis astronautas a bordo da Estação.

Começa assim a era dos voos espaciais comerciais, orientados para o lucro em vez da curiosidade científica. A SpaceX – Space Exploration Technologies Corp – faz história, ao ser a primeira empresa privada a enviar quase 500 quilos de mantimentos para a ISS, função antes cumprida apenas pelos governos.

No sábado os motores propulsores do Falcon 9 foram parados pelos computadores que abortaram automaticamente a descolagem no último segundo da contagem decrescente, devido a um problema numa das válvulas, que foi entretanto substituída.

Antes de se ancorar à Estação Espacial, a cápsula Dragon vai executar uma série de exercícios e manobras práticas de modo a garantir o seu correto e seguro funcionamento. Depois de uma semana ancorada à estação espacial, a cápsula regressará à Terra, sendo a primeira nave de carga não tripulada a poder aterrar no planeta em segurança, sendo que todas as que foram enviadas anteriormente desapareciam em chamas ao entrarem na atmosfera.

Astronautas americanos dependentes da Rússia

Depois dos cortes orçamentais no seu programa de exploração espacial, a NASA está a sondar os privados para responsabilizar uma empresa pelos lançamentos norte-americanos e assumir as viagens orbitais neste período anterior às viagens tripuladas.

Até à reforma dos vaivéns da NASA no verão de 2011, a agência espacial americana garantia a chegada de mantimentos, materiais, equipamento e até de membros da tripulação. Agora, os astronautas norte-americanos que habitam a ISS estão completamente dependentes dos foguetões russos Progress, podendo apenas virar-se para os engenhos europeus ATV ou os japoneses HTV, a menos que a SpaceX, ou um dos seus competidores, assuma essa reponsabilidade.

O objetivo, será, segundo a NASA, que uma destas companhias envie astronautas ao espaço a partir dos Estados Unidos, meta que a SpaceX conta conseguir atingir em menos de tês ou quatro anos, segundo informou a empresa à Associated Press.

Lançamento custou um milhar de milhão de dólares

Twitter de Elon Musk, dono e fundador da SpaceX.A SpaceX foi fundada há dez anos pelo bilionário Elon Musk, conhecido por ser co-fundador da PayPal e gerir a Tesla Motors, uma empresa que produz carros elétricos. Musk, de 40 anos, investiu milhões de dólares do seu próprio dinheiro na empresa e a NASA contribuiu com 381 milhões de dólares (investimento público) como capital inicial para o desenvolvimento do Falcon 9.

Como descreveu o fundador, gestor e diretor de design da SpaceX, Elon Musk, o lançamento desta manhã “foi como o Super Bowl“. Pessoas em todo o mundo – e os tripulantes da Estação Espacial – estavam de olhos postos no foguetão e acompanharam o seu lançamento. A Casa Branca emitiu imediatamente um comunicado a congratular a empresa.

Veja aqui a entrevista de Elon Musk ao 60 Minutes, sobre a corrida ao espaço.

“Senti cada gota de adrenalina do meu corpo”, disse Musk. “É obviamente um momento extremamente intenso.”

Sendo a empresa um dos principais investidores nas energias renováveis nos EUA, a cápsula será, em grande parte, alimentada por energia solar. “Nunca foram implantados painéis solares no espaço. Uma série de coisas poderia ter corrido mal”, explicou Musk.

“Havia tanta esperança depositada no lançamento do foguetão que, quando tudo funcionou, a Dragon foi enviada para o espaço e os painéis solares implantados sem problemas, as pessoas viram a sua obra operacional no espaço e sentimos todos uma alegria tremenda. Para nós, é como vencer o Super Bowl.”

Falcon 9 elevou-se a 340 quilómetros da superfície da Terra em apenas 10 minutos, a cápsula Dragon ejetou-se e abriu os seus painéis solares. As comunicações funcionam. O primeiro lançamento comercial foi bem sucedido.

‘SCOTTY’ TAMBÉM FOI PARA O ESPAÇO

A cápsula da SpaceX leva também as cinzas do ator James Doohan, ‘Scotty’ na série Star Trek, bem como as de outras 307 pessoas. Já em agosto de 2008 a empresa tinha tentado realizar o desejo de ‘Scotty’, mas a cápsula Falcon 1 explodiu após a descolagem. Esta manhã foi enviado um frasco com 7 gramas das cinzas do ator que morreu em 2005.

Cada família pagou um mínimo de 2 995 dólares (2 339 euros) para enviar os seus entes queridos para lá da atmosfera da Terra, nove minutos após o lançamento do foguetão.

Os frascos com cinzas ficam na órbita da Terra. Dez a 240 anos depois, reentram na atmosfera, vaporizando-se como uma estrela cadente.

in RTP

Obama distribui ultimatos por “um mundo sem armas nucleares”

O Presidente norte-americano garantiu hoje, em Seul, que vai prosseguir com o objetivo de atingir “um mundo sem armas nucleares”, dizendo mesmo que os Estados Unidos têm mais bombas atómicas “do que precisam”. Prometeu discutir a questão do controlo de armas com Vladimir Putin numa reunião em maio, fez um ultimato ao Irão e avisou a Coreia do Norte para as consequências que terão novas “provocações”. Barack Obama discursou diante de alunos da Universidade de Hankuk imediatamente antes do início da II Cimeira de Segurança Nuclear, que reúne 53 representantes internacionais na capital da Coreia do Sul.

Falando antes da cimeira que vai decorrer até terça-feira em Seul, Obama discutiu a perspetiva de novas reduções no arsenal nuclear dos EUA, preparando-se para discutir medidas concretas contra a ameaça do terrorismo nuclear com líderes mundiais.

“Falo como um pai que não quer ver as filhas a crescer num mundo com ameaças nucleares”, disse Obama aos estudantes sul-coreanos, que o aplaudiram.

“Já podemos dizer com confiança que temos mais armas nucleares do que precisamos”, disse o Presidente dos EUA aos estudantes da Universidade de Hankuk, prometendo também trabalhar com a Rússia e a China no sentido de também diminuírem os respetivos arsenais.

Lembrou que representa o único país que alguma vez usou armas nucleares, enfatizando a posição privilegiada dos EUA para assumir a vanguarda no sentido da mudança em relação às políticas de segurança, mas acrescentou a necessidade de “um esforço global sustentado e sério”.

Durante a sua intervenção na Universidade de Hankuk, Obama defendeu ainda que o terrorismo nuclear continua a ser uma das principais ameaças globais. Porém, lembrou que, nos últimos dois anos, foram alcançados grandes progressos para dificultar o acesso de terroristas a material para fabrico de armas atómicas.

O Chile entregou urânio altamente enriquecido aos EUA, o Cazaquistão mudou combustível irradiado para um depósito seguro e a Ucrânia transferiu o material nuclear para um local de armazenamento sob a tutela de autoridades russas.

“Mas não temos ilusões. Sabemos que muito material nuclear – suficiente para muitas armas – ainda está a ser armazenado sem proteção adequada”, ressalvou Barack Obama. “Sabemos que os terroristas e os grupos criminosos estão a tentar consegui-lo”, alertou.

Coreia do Norte dominará discussão

A situação na Coreia do Norte deverá dominar a II Cimeira de Segurança Nuclear, apesar de o tema estar fora da agenda oficial. O debate não terá a participação de Pyongyang.
Cimeira de SeulÉ a maior discussão internacional na área de segurança nuclear, com a participação de 47 líderes estatais e de representantes de organizações internacionais (ONU, EU e AIEA e Interpol).

Nos dias 26 e 27 de Maio serão discutidas medidas internacionais de cooperação para combater a ameaça do terrorismo nuclear, proteção de materiais e instalações nucleares e de prevenção do seu tráfico ilícito.

A República da Coreia, como país anfitrião da conferência, irá desempenhar um papel de liderança na coordenação dos pontos de vista dos países participantes sobre as principais questões de segurança nuclear e irá liderar as discussões sobre a elaboração do Comunicado de Seul, o documento final da Cimeira.

A seleção daquele país como anfitrião da Cimeira de 2012 reflete o reconhecimento da comunidade internacional da qualidade da sua tecnologia nuclear e o seu uso para fins pacíficos.

Dirigindo-se diretamente às autoridades da Coreia do Norte, Obama afirmou que os EUA não têm “intenções hostis” em relação ao país, mas que não haverá “recompensas para as provocações”.

Obama alertou Pyongyang que o lançamento de um foguete para pôr um satélite em órbitra irá apenas isolar mais o país, uma vez que a comunidade internacional acredita que se trata de um lançamento de míssil de longo alcance disfarçado. Está anunciado para meados de abril, altura em que se celebra o centenário do ex-líder Kim Il-sung.

Este lançamento contraria um acordo alcançado no mês passado, que estipulava que a Coreia do Norte receberia ajuda alimentar em troca de um congelamento parcial das atividades nucleares e o fim dos testes de armamento.

“Poderão continuar na estrada que estão hoje, mas nós sabemos até onde é que essa estrada vai”, disse Obama, dirigindo-se diretamente aos líderes norte-coreanos. “Hoje, nós dizemos: Pyongyang, tenham a coragem de procurar a paz”.

Obama discursou em conferência de imprensa com o Presidente sul-coreano Lee Myung-bak. “É um padrão com décadas, que leva a Coreia do Norte a pensar que se agir provocadoramente, irá de alguma forma ser subornada para desistir de faze provocações”, explicou Obama. “O Presidente Lee e eu decidimos que vamos quebrar esse padrão.”

A Coreia do Sul avisou que tenciona abater o foguete caso se aproxime demais do seu território. “Estamos a preparar medidas para controlar a trajetória do míssil e derrubá-lo se, por acaso, se desviar da rota planeada e caia no nosso território”, disse um porta-voz do Ministério da Defesa.

Irão sob ultimato

Barack Obama alertou também o Irão que já não resta muito tempo para resolver, por via diplomática, a crise aberta pelo programa nuclear iraniano.

Medo em crescendo
Desde o colapso da União Soviética, em 1991, tem havido preocupações crescentes sobre a possibilidade de materiais nucleares caírem nas mãos de terroristas. Nos EUA, as preocupações foram dilatadas depois dos ataques do 11 de Setembro de 2001. Desde então, Washington e os seus principais aliados estão convencidos de que a Al-Qaeda está a tentar obter material para construir uma bomba nuclear ou radioativa.
Barack Obama estabeleceu altas expectativas num discurso que fez em 2009, em Praga, em que declarou que era hora de procurar “um mundo sem armas nucleares”, e foram os seus discursos proferidos no sentido desse objetivo que lhe garantiram o Prémio Nobel da Paz.
Em abril de 2010, o Presidente dos EUA convocou uma reunião que estabeleceu o objectivo ambicioso de garantir a proteção de todos os materiais nucleares, em todo o mundo, no prazo de quatro anos.
A Cimeira de Seul realiza-se hoje e manhã para criar um novo plano estratégico que permita alcançar esse objetivo. Alguns países veem este processo como altamente intrusivo e uma ameaça à soberania, o que dificulta a discussão.

Acusou o país de ter tomado “o caminho da mentira, negação e engano”, mas garantiu que “ainda há tempo para resolver o problema por via diplomática”: “Eu prefiro sempre resolver as questões de forma diplomática, mas o tempo urge. O Irão terá de agir com a seriedade e o sentido de urgência que o momento pede”.

“Os tratados [internacionais sobre armas nucleares] são vinculativos, as normas são para respeitar e as violações terão consequências”, disse Obama, lembrando que o Irão deve aproveitar a oportunidade que representam as próximas conversações previstas com o G5+1, o grupo que reúne os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU – EUA, Rússia, China, Reino Unido e França – e a Alemanha, que deverão ter lugar no próximo mês, em princípio em Istambul, na Turquia.

Teerão garante que o seu programa nuclear é puramente pacífico, mas Israel e as nações ocidentais acreditam que o país se move em direção à construção de uma bomba nuclear que poderia mudar o equilíbrio regional de poder. Obama pediu a Israel para adiar quaisquer ataques preventivos a instalações nucleares iranianas, de forma a dar mais tempo a possíveis soluções diplomáticas, à base de sanções.

“Hoje, vou reunir-me com os líderes da Rússia e da China, enquanto trabalhamos para alcançar uma resolução na qual o Irão cumpra as suas obrigações”, acrescentou Obama.

Rússia e China negoceiam arsenal nuclear

Na mesma ocasião, o Presidente dos EUA disse que estava ansioso por se encontrar em maio com o recém-eleito Presidente russo, Vladimir Putin, para discutir novos cortes nas armas nucleares.

Obama pretende dar seguimento ao pacto New Start, o Tratado de Redução de Armas Estratégicas que conseguiu ver assinado em 2010 entre Washington e Moscovo. Ficou definido que o arsenal norte-americano e russo só poderiam ter 1550 ogivas nucleares, um corte de cerca de 30 por cento em relação aos limites definidos anteriormente. O Tratado também permite que cada país inspecione a capacidade nuclear do outro.

Obama reuniu-se esta segunda-feira com ainda homólogo russo, Dmitry Medvedev, para discutir estas questões. Referiu ainda que os EUA convidaram a China para trabalhar com Washington e que “a oferta permanece em aberto”.

“Temos um interesse comum em certificar que as normas internacionais em torno da não-proliferação das armas nucleares”, afirmou o Presidente dos EUA, antes da reunião bilateral com o presidente chinês Hu Jintao.

in RTP

Militar americano suspeito de ter morto civis estava na quarta missão em combate

O sargento Robert Bales, o militar acusado de matar 16 civis no Afeganistão na semana passada, foi enviado três vezes ao Iraque e estava pela quarta vez em missão de combate, desta vez no Afeganistão, num total de mais de dez anos de serviço, um recorde de combate que no mínimo sugere altos níveis de stresse.

Fontes oficiais do Exército disseram este fim de semana que o número de missões de Bales não era incomum numa força de combate que tem trabalhado num ritmo sem precedentes, com soldados a serem enviados repetidas vezes para as duas guerras em que os EUA estão envolvidos. “Muitos soldados são enviados em quatro missões e não estão a ser acusados de coisas como esta”, disse, em declarações ao The New York Times, o coronel Thomas W. Collins, porta-voz do Exército.

Desde os ataques de 11 de setembro de 2001, mais de 107 mil soldados, dos 570 mil alistados, foram enviados três ou mais vezes para cenários de guerra, afirmou Collins este sábado, dizendo que até há quem tenha sido enviado sete ou oito vezes por fazer parte das Operações Especiais, ainda que por períodos de tempo muito mais curtos. Bales foi enviado para três missões de um ano no Iraque e, na altura das mortes, estava há três meses numa missão de nove meses em Panjwai, no Afeganistão.

Apesar dos crimes dos quais é acusado serem violentos e brutais, os advogados das famílias de militares dizem que a pressão enfrentada por Bales é normal num militar que enfrentou o mais longo período de conflito armado na história do país. Michael Waddington, um advogado para membros do Exército acusados de crimes violentos, disse que o Pentágono não tem recursos para detetar e tratar adequadamente as tropas que sofrem de ansiedades graves e stresse pós-traumático.

“É surpreendente que este tipo de coisas não tenha acontecido antes, dada a quantidade de tempo que estivemos no Iraque e no Afeganistão”, disse ele. Apenas 24 horas depois de a identidade do sargento Bales ter sido tornada pública, surge o perfil de um soldado de 38 anos, casado, pai de duas crianças, no seio de uma família jovem que enfrenta tensões físicas, emocionais e financeiras há 10 anos, num país envolvido em duas guerras.

Segundo publica o jornal The New York Times, é provável que durante as próximas semanas surja um debate em torno da pressão sobre deste sargento e se as quatro missões o terão encaminhado aos crimes que cometeu na aldeia de Panjwai, no sul do Afeganistão. Um argumento que poderá ajudá-lo a defender-se, caso seja julgado em tribunal marcial.

Perfil de Bales sugere lesões de guerra

O militar agora acusado dos assassinatos de 16 civis é um ex-corretor da bolsa de Ohio que se juntou ao Exército logo após os ataques do 11 de setembro de 2001. Nesse ano, foi apresentada uma queixa contra ele por agressão, mas Bales nunca chegou a ser acusado. Robert Bales esteve em combate durante as suas três missões ao Iraque quando foi enviado para combater pela quarta vez, no Afeganistão, num recorde de 1192 dias. Foi ferido duas vezes, incluindo uma lesão grave na cabeça na consequência de um acidente com o seu Humvee no Iraque. O Exército certificou-o como apto para o combate imediatamente antes de o enviar pela quarta vez para a guerra.

O perfil de Robert Bales sugere que, depois de quase 10 anos ao serviço do Exército no estrangeiro com o salário de sargento, estaria com dificuldades financeiras e a chegar a um ponto de ruptura em que a propriedade da família estava em risco de ser penhorada, depois de contrair uma dívida superior a 50 mil dólares. A notícia, embora não fosse inesperada, terá sido um novo golpe para o sargento que estava há três meses em missão no Afeganistão, missão essa que, segundo o blogue da esposa, tinha a esperança de evitar.

“Estava particularmente preocupado com o facto de poder ser enviado para o Afeganistão”, segundo os relatos on-line da sua mulher, que escreveu um blogue durante o ano passado sobre os detalhes da sua gravidez com o marido do outro lado do mundo, as saudades que sentia, o medo de o perder e a decepção do casal quando o marido foi ultrapassado numa possível promoção. Karilyn Bales escrevia sobre a angústia de ter um cônjuge militar com uma casa para gerir, contas para pagar, dois filhos pequenos e o marido a ser enviado em missão de combate repetidas vezes. Grande parte da presença on-line da família parece ter sido removida.

Entretanto, o Exército garante que Bales recebeu dinheiro extra sempre que foi em missão, apesar de esse valor ser de apenas 150 dólares a mais por mês pelo serviço de combate e 250 euros de subsídio de separação, por ser colocado longe da família. A sua remuneração anual, livre de impostos, quando foi colocado numa zona de guerra, incluindo subsídios de alojamento e alimentação, era de cerca de 68 mil dólares, segundo declarou o Exército ao The New York Times, este sábado.

Bales terá dois advogados civis e um militar

O sargento Robert Bales está confinado a uma solitária no centro de detenção militar de Fort Leavenworth, no Kansas, nos EUA, onde chegou na noite de sexta-feira.

Bales é acusado de executar metodicamente 16 civis, incluindo quatro crianças da mesma idade dos seus filhos, em menos de uma hora. De seguida, terá incendiado os corpos e retomado à base para dormir.

O seu advogado, John Henry Browne, disse hoje num comunicado que Bales se alistou no Exército por patriotismo, um mês depois do 11 de setembro, explicando que “não foi uma coisa do tipo ‘Eu vou matar os maus da fita’. Foi ‘Eu vou ajudar o meu país’ “.

O advogado civil vai partilhar a defesa do caso de Bales com Emma Scanlan, também civil, e com um advogado de defesa militar, Major Thomas Hurley. Sobre o caso e a estratégia de defesa, Browne disse apenas que “os relatórios públicos em que os supervisores do Sargento Bales, a família e os amigos o descrevem, desenham o perfil de um soldado equilibrado e experiente”.

in RTP

Resultados provisórios das presidenciais em Timor empurram Ramos-Horta para derrota

Estão conferidos 65,7 por cento dos votos nas presidenciais em Timor-Leste e a segunda volta parece garantida. Tomás Cabral, Diretor Nacional do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE), diz, em declarações à RTP, que Francisco Guterres Lu Olo, apoiado pela Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (Fretilin), e Taur Matan Ruak, ex-Chefe das Forças Armadas, vão à frente na contagem. José Ramos-Horta surge apenas em terceiro lugar. Até agora nenhum candidato conseguiu mais de 50% dos votos, o que faz prever uma segunda volta já em Abril.

O atual Presidente de Timor-Leste parece ficar para trás nesta candidatura à reeleição, o que, tendo em conta a campanha eleitoral minimalista e as suas declarações à boca da urna, não surpreende. Nestas segundas eleições desde que o país conseguiu a independência há dez anos, e as primeiras totalmente organizadas pelo país, Ramos-Horta falou aos jornalistas, após exercer o direito de voto, sobre os planos para um futuro fora da presidência.

“Perder as eleições seria uma vitória, porque ganho a minha liberdade pessoal”, declarou. “Não querendo dizer que me esquivo de possíveis responsabilidades”, acrescentou o Presidente, pondo a hipótese de continuar a trabalhar ativamente na política e mencionando a possibilidade de se candidatar às legislativas.

O STAE disse, em direto na televisão pública, que Francisco Guterres Lu Olo, apoiado pelo principal partido da oposição, a Fretilin, lidera a contagem por 28,49 por cento dos votos, seguido pelo ex-chefe das Forças Armadas e líder guerrilheiro Taur Matan Ruak, apoiado pelo Conselho Nacional da Reconstrução (CNRT) de Timor Leste e pelo primeiro-ministro Xanana Gusmão, com 25,05 por cento.

Ramos-Horta, Nobel da Paz em 1996 e figura-chave na luta de Timor-Leste pela independência, conta com 18,23 por cento dos votos. Em quarto lugar surge Fernando La Sama de Araújo, atual presidente do Parlamento Nacional e líder do Partido Democrático, com 17,48 por cento dos votos. Os resultados completos deverão ser anunciados esta segunda-feira.

Os dois primeiros colocados, num grupo de 12 candidatos, vão disputar a segunda volta em meados de abril. Fiscais, observadores e público garantem a transparência da contagem de votos.

Lu Olo “contente” e “confiante” para segunda volta

“Apesar de tudo, especialmente da alta abstenção, Francisco Guterres Lu Olo está contente com o resultado, que naturalmente seria melhor se a participação fosse maior”, afirmou hoje o porta-voz da sua candidatura, José Teixeira. “Está confiante para a segunda volta”, acrescentou.

A “equipa de sucesso” por detrás do candidato que lidera a contagem de votos no dia seguinte às eleições, “já está a preparar a estratégia para assegurar a vitória”, disse José Teixeira.

Os dados provisórios do STAE indicam que já foram contados 411.632 votos e os números da abstenção ainda não foram oficialmente divulgados. Mais de 625 mil eleitores timorenses foram chamados às urnas para eleger o terceiro Presidente do país desde a restauração da independência a 20 de maio de 2002, este sábado, dia 17 de março. Até agora, 16.341 boletins de voto (2,61 por cento) foram considerados nulos e 5.989 pessoas votaram em branco (0,96 por cento).

Taur Matan Ruak diz que povo está de parabéns

“As eleições foram pacíficas, serenas, ordeiras e com um alto grau de civismo. O nosso povo está de parabéns e a comunidade internacional também”, disse Taur Matan Ruak.

Segundo o general, que falava em conferência de imprensa, qualquer que seja o resultado “é a democracia de Timor Leste que fica a ganhar”, salientando ainda que conta com os seus apoiantes para continuar o processo de aprofundamento da unidade no país.

O candidato não comentou os resultados provisórios e disse que ainda não recebeu indicações sobre quem passa à segunda volta.

“O mundo deve orgulhar-se de Timor-Leste”

Paulo Portas refere que o caso timorense prova que é possível vencer quando se luta pelas causas e pelos valores certos. “Os timorenses comemoram dez anos de independência, uma luta de enorme dignidade. É muito importante que o mundo possa orgulhar-se de um caso de sucesso na comunidade internacional”, declarou à RTP o ministro dos Negócios Estrangeiros.

“Depois de muito sofrimento, é a prova de que quando se luta pelas causas e os valores certos, pode demorar muito tempo, mas consegue-se uma vitória”, disse Paulo Portas, saudando um povo que luta pela “pluralidade e democracia.”

Recuperar a confiança na liderança e nas instituições

A eleição é vista pela comunidade internacional como um teste crucial para saber se o país mais jovem e mais pobre da Ásia pode manter a estabilidade e construir confiança para desenvolver a economia.

No fim de um mandato presidencial de cinco anos, num país que acabou de sair de uma crise política-militar, Ramos-Horta saudou o povo, que “sofreu muito e ficou muito desiludido connosco em 2006”, ano que iniciou um conflito entre elementos do exército contra discriminações no seio militar, e se expandiu para uma guerra civil centrada na capital, Díli, obrigando a uma intervenção militar de outros países.

“Contribuí com algo para recuperar a fé do povo em relação à liderança e às instituições”, acrescentou o presidente que sobreviveu a uma tentativa de assassinato em 2008.

Ramos-Horta decidiu adiar a sua declaração oficial para segunda-feira, dia em que serão declarados os resultados finais. “O Presidente da República adiou a sua declaração à Nação para segunda-feira às 11h00 locais (2h00 em Lisboa). Ocasião em que elogiará o civismo com que decorreram as eleições e comentará os resultados”, disse à agência Lusa fonte do gabinete de imprensa da Presidência timorense.

O presidente desempenha um papel apenas representativo na política, mas é vital para projetar estabilidade em Timor-Leste, que tem reservas de petróleo na zona costeira, mas enfrenta fortes dificuldades para desbloquear a sua riqueza. As reservas são objeto de uma disputa com a Woodside Petroleum, empresa de exploração da Austrália, que lidera um consórcio de desenvolvimento do projeto Greater Sunrise. A empresa australiana quer construir uma plataforma flutuante e Timor-Leste insiste numa central construída na costa, que crie mais postos de trabalho para o povo timorense.

in RTP