A cerimónia com a passadeira vermelha mais criticada do mundo e os juízes mais subornados dos EUA termina com um empate. O resultado final é 5-5, entre Hugo e O Artista. Mesmo assim, parece que o grande vencedor da noite é o filme a preto e branco (“o quê, pá?” grita a minha geração) em que nenhum dos fantásticos actores franceses abre a boca – até porque isso estragava tudo, o filme tinha que concorrer como Melhor Filme Estrangeiro e não tinha metade do mediatismo, o que não dava para cobrir o investimento em Relações Públicas, e isso seria uma chatice. É que, aparentemente (surpresa, surpresa), “Melhor Filme” e “Melhor Actor” são Óscares mais relevantes que “Fotografia” e “Efeitos Sonoros”.
Para resumir a noite a quem não teve a triste ideia de ficar acordado até às 4h30 da manhã para desfrutar de um serão que não teria a-b-s-o-l-u-t-a-m-e-n-t-e piada nenhuma sem o poder interactivo das redes sociais, dos chats e das SMS, passou-se o seguinte (e perdoem-me os coloridos comentários):
E fica na memória o episódio que será o “first world problem” de amanhã, a polemicazinha do circo de Hollywood, a razão pela qual não devemos deixar as nossas crianças ver televisão… a parvoíce que o Sacha Baron Cohen fez para dar nas vistas (palminhas pelo esforço) e que deixou o pobre do Ryan Seacrest cheio de vontade de largar uma “F bomb” em directo. Aqui fica o tesourinho:
O segundo momento que me dá na gana recordar é o desfile das marionetas, vedetas negligenciadas de 2011. O sapo Cocas e a Miss Piggy deram show sem precisarem de grande esforço, mas com muito bling bling assente no tecido daquela porquinha. Parece que o filme rendeu qualquer coisa como 130 milhões de dólares e que (spoiler alert!) o casamento dos pombinhos não avançou sem pé-de-meia valente.
A cerimónia – uma tristeza tão grande que o comentador da TVI (outra tristeza ainda maior) disse, com toda a certeza que a voz que lê um guião pode ter, que o momento alto da noite foi a actuação do Cirque du Soleil. Foi mágico, sim senhor, mas é triste que a cerimónia da Academia seja ofuscada pelo intervalo…
A performance de Billy Crystal deixou muito a desejar. Foi a nona vez que teve a honra de apresentar a maior e mais esperada noite do mundo do cinema, mas talvez os oito anos de intervalo entre a última tentativa e a noite passada lhe tenham estragado o papel.
Havia muitas piadas escritas para Billy Crystal ler, mas só houve risos sentidos quando Chris Rock subiu ao palco para anunciar o vencedor do Óscar de Melhor Filme de Animação. Falou da magia dos desenhos animados, de se poder ser uma personagem tão diferente da que somos todos os dias, terminando com um espirituoso comentário ensopado em conceitos racistas que funcionam como piada em todo o mundo: “If you are a black man you can play a donkey or a zebra”.
A melhor intevenção – quase lado a lado com os eficientes agradecimentos da Senhora Meryl Streep, recordista de Nomeações e Óscares perdidos – foi a de Christopher Plummer, vencedor do Óscar de Melhor Actor Secundário aos 82 anos, por um papel que enche as medidas ao politicamente correcto, ao público impressionável, ao lobby gay e, pelos vistos, à Academia. Foi espontâneo e genuino. Disse as melhores piadas da noite e merecia ter apresentado o raio da cerimónia completa.
A única gargalhada vinda de dentro das entranhas que soltei durante a transmissão, foi no momento em que, logo a seguir a passar um clip de homenagem ao que considero ser o filme do ano 2011, Drive, Billy Crystal encolheu os ombros e disse “nhé” (eu sei que assim contado não parece bom, mas foi).
De apontar que, para apresentar a Melhor Canção Original, subiram ao palco Will Ferrell e Zach Galifianakis. Quanto a isto tenho a dizer: dois dos melhores cómicos de Hollywood e isto é o melhor que conseguem? Deviam ter vergonha. Mas o vencedor mereceu o prémio, pela hilariante “Man or Muppet” dos Marretas, com a participação especial do actor Jim Parsons, a.k.a Sheldon em The Big Bang Theory.
A Angelina Jolie está a desaparecer (devia ter vergonha…). E aquele vestido a dar-lhe ancas 10 vezes o tamanho das dela com o pernão ao léu foi má ideia. Mui-to-má-i-dei-a!! E a única pose que adoptou para a noitada, de mão na cintura por cima do tecido excedente do conjuntinho, não disfarçou nadinha. E a intervenção das Bridesmaids? Pernas longas, decotes voluptuosos, carinhas larocas? Sim, sim e sim. Piadas originais? Se acharem que falar do tamanho dos pirilaus que as satisfazem, enquanto apresentam os nomeados para Melhor Curta Metragem, é original…
Brilhante foi a intervenção de Colin Firth: “Meryl, mamma mia. We were in Greece, I was gay and we were happy. I probably fathered your only daughter”, disse ele. E o Óscar vai para… Meryl Streep.
Um viva para o vencedor de Melhor Argumento Original, a obra de Woody Allen, Midnight in Paris, um favorito meu que merecia imenso o Óscar que ganhou; outro viva para o Óscar ganho por The Girl With The Dragon Tattoo, que se só podia levar uma estatueta para casa levou a certa, pelo trabalho de edição; e um viva pela atenção dada à curta de animação The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore, vencedora do Óscar da categoria, que vos deixo aqui para desfrutar.
Para terminar… que raio de ideia foi aquela de apresentar os nomeados para melhor filme com o Tom Cruise e a theme song da Missão Impossível?! Hollywood, a ironia não te assenta bem. Que piroseira.
Se mesmo assim estão interessados em saber mais, aqui estão os vencedores e aqui os melhores momentos da passadeira vermelha.