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Pessoa do Ano TIME é “O Manifestante”

“Da primavera árabe a Atenas, do Ocuppy Wall Street a Moscovo”, lê-se na capa da revista de Dezembro. Que vitória. Épico 2011. Mal posso esperar por 2012.

E depois um amigo inteligente e pessimsita disse-me: “O manifestante acabou de tornar-se mainstream. Agora é uma questão de tempo até as corporações arranjarem maneira de lucrarem com isso. Talvez uma nova tendência de moda?”

PESSOAS

O desemprego… outra vez

Colaboração com o jornal universitário de Coimbra, A Cabra.

Estudantes manifestam-se frente à Assembleia da República

Quase três centenas de estudantes do Ensino Superior reuniram-se em frente à Assembleia da República (AR) no passado dia 12 de Novembro, enquanto era discutido o Orçamento de Estado (OE) para 2009. Protestaram contra o reduzido financiamento para o sector, as propinas, o Processo de Bolonha, e a falta de representação dos estudantes nos órgãos de gestão das faculdades, dado o novo Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior.

Miguel Tiago Rosado, deputado do grupo parlamentar do Partido Comunista Português (PCP), saiu da reunião para se dirigir aos estudantes. Afirmou que o Governo tem seguido uma politica de “subfinanciamento” e acusou o ministro José Mariano Gago de tomar posição “contra o Ensino Superior”. “Actualmente, o dinheiro transferido pelo governo para as instituições do Ensino Superior não chega para 80 por cento dos custos regulares das universidades como, por exemplo, os ordenados

Miguel Tiago Rosado afirmou ainda que o investimento no Ensino Superior é, a médio longo prazo, um investimento na economia portuguesa. “Esta política do governo trata o conhecimento como uma mercadoria, como se devesse ser vendido à peça e os estudantes devessem pagar para a ele acederem”. Segundo o deputado, ainda faltam entre 150 e 200 milhões de euros no financiamento para o normal funcionamento das universidades “e mais uns milhões para deixar de haver propinas”. Para Miguel Tiago Rosado, esses milhões não estão a ser transferidos “não por uma questão de falta de recursos, mas por opção política de privatização das universidades e do conhecimento”, visto que o governo tinha acabado de injectar 24 mil milhões de euros na banca.

O deputado relembrou que o PCP tem apresentado desde 2005 propostas para o reforço da verba do Ensino Superior, e que os partidos Socialista (PS), Social Democráta (PSD) e Popular (CDS-PP), votaram sempre contra. Segundo Miguel Tiago Rosado, estes partidos só tomaram posições de incentivo ao financiamento das universidades depois de os próprios reitores enviarem cartas para a opinião pública. Refere ainda que o governo implantou o Processo de Bolonha como “a maior das maravilhas, como o desenvolvimento tornado lei em Portugal”, mas que, analisando do ponto de vista dos estudantes, apenas leva à privatização dos mais elevados graus do conhecimentos e trata-se de “um desinvestimento sério na qualificação do povo português e no valor do trabalho”.

O deputado manifestou ainda “a solidariedade do grupo parlamentar do PCP” para com os estudantes em luta, afirmando que “não há nada mais importante do que estarem aqui hoje, enquanto o debate é travado na AR, para que se sinta nas ruas a denúncia dos erros do Governo”.

Segundo Patrícia Monteiro, presidente da Associação de Estudante (AE) da FCSH, “são muitos mais estudantes da nossa faculdade do que na última manifestação”. A presidente revelou que a Reunião Geral de Alunos e o debate “Política Educativa” levaram a uma maior consciencialização do papel dos estudantes na luta. Explicou ainda que os principais problemas da FCSH se devem à falta de financiamento do Estado e à deterioração da Acção Social Escolar. Mais uma vez, os estudantes em luta referiram o problema da obrigatoriedade de cartão Santander, que Patrícia Monteiro afirmou nem sequer identificar um estudante, visto não conter informação sobre a faculdade e o curso frequentado.

Gonçalo Braz, caloiro na FCSH, disse à N que desde Setembro já se deparou com falta de material, salas de aula sem condições e preços demasiado elevados dos serviços da faculdade, das fotocópias e dos livros necessários às cadeiras leccionadas.

António Serqueira, outro aluno, explicou que encontra muitos problemas de falta de apoio por parte dos serviços académicos e administrativos enquanto trabalhador-estudante, referindo, por exemplo, a necessidade de ter acesso à Internet e e-mail para conseguir determinadas informações: “Nem todos temos e-mail e Internet em Portugal, essa é uma ideia que nos estão a impingir. E desconfio de que o Magalhães não chegará às universidades”. Disse ainda que a licenciatura foi transformada em bacharelato, o que torna necessário frequentar o mestrado, cujos preços “são inacessíveis, mesmo para trabalhadores-estudantes”.

Joana Tomé, da Faculdade de Belas Artes de Lisboa, explicou os problemas que o Processo de Bolonha trouxe, como equivalências e horários mal atribuídos e apontou a falta de financiamento que leva à escassez de materiais nas aulas.

Ana Rita Governo da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, disse à Revista N que as condições em que funcionam os serviços administrativos e académicos são “ridículas” e que o financiamento para a faculdade é “mínimo”. Uma estudante da mesma faculdade afirmou que há “mestrados pagos a preço de ouro e para fazer mais dois anos temos que pagar valores que chegam a 15 mil euros, como já se conhece em mestrados no Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE)”.

Raul Ramires, vice-presidente da AE da FCSH dirigiu-se aos estudantes dizendo que “o governo está a assumir à partida que o orçamento que está a elaborar não será suficiente para o Ensino Superior, ao atribuir verbas tão altas à banca”. Referiu ainda a questão das bolsas “que não são suficientes para todas as necessidades que os estudantes têm” e que estão a ser gradualmente substituídas por empréstimos, o que considera ser o caminho para a privatização do Ensino Superior.

A direcção da AE da FCSH enviou, no dia seguinte aos protestos, uma nota aos meios de comunicação social de incentivo à luta dos estudantes e de protesto quanto à relevância dada ao movimento académico do passado dia 12 de Novembro, afirmando que “voltou a ignorar e a depreciar a manifestação em termos numéricos e de conteúdo”.

Joana Tadeu