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EUA castigam Paquistão por condenar alegado informador da CIA

A emenda, proposta pelo senador republicano Lindsey Graham, foi aprovada por unanimidade e reduz, em 33 milhões de dólares (26 milhões de euros), o apoio a Islamabad. A agência France Press informa que o valor escolhido pelo Senado norte-americano simboliza o número de anos de prisão a que foi condenado o médico paquistanês.

“Precisamos do Paquistão, o Paquistão precisa de nós, mas nós não precisamos do Paquistão a jogar jogo duplo e sem ver justiça no fim de Osama bin Laden”, disse o senador republicano Lindsey Graham.

Shakil Afridi, de 50 anos, foi condenado a 30 anos de prisão pelo sistema de justiça tribal do distrito paquistanês de Khyber, em primeira instância. Além da pena de prisão, o médico ficou obrigado ao pagamento de uma multa no valor de 3500 dólares (2783 euros) que, se não pagar, lhe aumenta a pena de prisão em mais três anos.

Foi acusado de traição por alegadamente ter fingido a realização de um programa de vacinação contra a Hepatite B junto dos filhos de Osama bin Laden, ex-líder da Al Qaeda, no complexo onde todos moravam em Abbottabad, a fim de recolher amostras de ADN para entregar à CIA. É considerado, pelo tribunal tribal, um espião, ainda que não esteja claro se o médico sabia que estava encarregue de uma missão para a CIA na altura dos acontecimentos.

“Shakil não sabia realmente que estava à procura de Bin Laden”, disse Shaukat Qadir, um ex-militar paquistanês que investigou o ataque a Abbottabad e tem estado a par dos detalhes do interrogatório a Afridi, segundo noticia a BBC. “Mas ele deveria ter notificado as autoridades paquistanesas das suas atividades”, acrescenta.

“No caso do Dr. Afridi o que está em causa é se agiu em conformidade com as leis paquistanesas e pelo que é decidido pelos tribunais paquistaneses, e os países precisam de respeitar os processos legais uns dos outros”, disse aos jornalistas Moazzam Khan, a porta-voz do ministério paquistanês das Relações Exteriores.

O Paquistão insistiu, em comunicado às agências, que qualquer outro país teria feito o mesmo se descobrisse que um seu cidadão estava a trabalhar como espião para uma nação estrangeira. Afridi não esteve presente no seu próprio julgamento e não pôde, por isso, dar a sua versão dos acontecimentos. Está confinado a uma cela na prisão de Peshawar.

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A captura do líder da Al Qaeda

Bin Laden foi morto por uma unidade de elite das Forças Armadas norte-americanas a 1 de maio de 2011, no complexo em que vivia em Abbottabad, no Paquistão. O acontecimento abriu uma frente de conflito entre os EUA e o Paquistão, que viu esta ação como uma violação da sua soberania, fragilizando a relação entre Washington e Islamabad. Pouco depois do ataque unilateral dos EUA à casa de Bin Laden, Afridi foi preso por conspirar contra o Estado do Paquistão.

Nos EUA e noutras nações ocidentais, Afridi é visto como um herói que ajudou a eliminar o homem mais procurado do mundo, mas o exército e chefes de espionagem paquistaneses mostraram-se indignados com o ataque, o que levantou a suspeita internacional de que o Paquistão estava a abrigar o então líder da Al Qaeda.

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A medida punitiva foi acrescentada às profundas reduções que o Comité das Dotações já tinha programado para o orçamento que o Presidente Barack Obama fez para o Paquistão no sentido de compensar a cooperação do executivo paquistanês no combate ao terrorismo. O pedido de Obama foi reduzido em 58 por cento.

A mesma comissão aprovou ainda a redução já prevista de apoios ao Afeganistão e ao Iraque. O orçamento global para a ajuda externa para o próximo ano foi cortado em mais de metade e podem surgir novas reduções para o Paquistão se Islamabad não abrir rotas de transporte terrestre para a entrada das forças da NATO (lideradas pelos EUA) no Afeganistão.

Estas rotas foram encerradas depois de, durante um ataque ao Afeganistão em novembro de 2011, coordenado pelo exército norte-americano, do lado da fronteira com o Paquistão, terem morrido 24 soldados paquistaneses.

“O tribunal vê a Al Qaeda como Paquistão”

A senadora democrata Dianne Feinstein, presidente do Comité de Inteligência do Senado, negou que Afridi fosse um espião ao serviço dos EUA e referiu que o Paquistão tem sofrido nas mãos dos terroristas e que, por isso, o Executivo tem dificuldades em compreender por que é que a condenação Afridi é uma traição das relações diplomáticas com os EUA.

“Esta condenação diz-me que a Al Qaeda é vista pelo tribunal como sendo Paquistão”, declarou Feinstein, justificando o porquê de repensar a assistência dos EUA àquele país.

Não foi iniciado qualquer processo diplomático, com republicanos e democratas a posicionarem-se na mesma perspectiva. Shakil Afridi foi preso ontem e as medidas de punição do país foram tomadas hoje.

“É arbitrário, mas a esperança é que o Paquistão perceba que estamos a falar a sério”, disse o número dois do Senado, o democrata Richard Durbin. “É ultrajante que [os paquistaneses] digam que um homem que nos ajudou a encontrar Osama bin Laden é um traidor”, acrescentou.

Lindsey Graham acusou o Paquistão de ser um “aliado esquizofrénico”, por ajudar os Estados Unidos da América ao mesmo tempo que ajuda a rede terrorista Haqqani, um grupo com estreita relação à Al Qaeda e aos talibãs, e que reivindicou autoria de vários ataques contra americanos.

O democrata Patrick Leahy afirmou que a relação diplomática entre os dois países era como “Alice no País das Maravilhas, na melhor das hipóteses. Se isto é cooperação, odiaria ver como seria a oposição.”

Condenação foi “injusta e infundada”

A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, já tinha pedido a libertação do médico paquistanês esta quinta-feira, alegando que Shakil Afridi serviu tanto os interesses norte-americanos como os paquistaneses, considerando a condenação “injusta e infundada”.

“A sua ajuda foi fundamental para derrubar um dos mais conhecidos assassinos do mundo, o que era, claramente, do interesse do Paquistão, assim como nosso e do resto do mundo”, disse Clinton aos jornalistas, acrescentando que os EUA vão continuar a pressionar Islamabad no sentido de retirar a acusação de traição.

O senador John McCain, representante republicano no comité das Forças Armadas, informou que os legisladores concordaram em reter alguma da ajuda militar para o Paquistão até que o secretário paquistanês da Defesa certifique que o país vai deixar de condenar pessoas como Afridi.

“Todos estamos indignados com a acusação e a condenação a 33 anos de prisão – praticamente uma sentença de morte – para o médico paquistanês que foi fundamental na remoção de Osama bin Laden”, disse McCain, acrescentando que Afridi era inocente de qualquer delito.

O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Leon Panetta garantiu, em tom de ameaça política, que este tipo de ação contra alguém que ajudou na guerra contra o terrorismo era “um erro”.

in RTP